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Trabalho em equipe


A maioria dos roteiristas começa a escrever na infância ou na adolescência. São poesias, letras de música, redações, contos, peças de teatro e livros que ninguém vai ler.

Alguns escritores viram roteiristas, outros já partem para o roteiro antes de se aventurarem nos livros. O fato é que escrever com liberdade total para criar e ver seu texto totalmente respeitado não é o que costuma acontecer na vida de um roteirista. Mas isso não é o fim do mundo.

Na realidade, fazemos parte da primeira etapa de criação de um produto que vai ser mexido, remexido e virado do avesso até se tornar uma obra audiovisual. Muitas vezes (em televisão quase sempre) temos que escrever em grupo, que pode ou não ter um coordenador, supervisor ou chefe. E aí começam todos os problemas decorrentes da convivência entre os seres humanos.

Criar sozinho exige talento, dedicação, persistência, concentração, etc, etc… Criar em grupo exige, além disso tudo, desprendimento e generosidade. Criar em equipe também significa pensar com a cabeça do outro, tornar-se uma espécie de camaleão da escrita.

Deixar o ego na prateleira e tornar-se parte do grupo não é uma tarefa fácil quando se escreve um roteiro. De quem é a idéia? Como continuar criando junto se você acha que a idéia escolhida pelo grupo (ou pelo chefe) é ruim? Como criar junto de alguém que não é seu melhor amigo? Qual a melhor relação com o chefe da equipe? São milhares de perguntas possíveis.

Qualquer idéia é do grupo. Muitas vezes, no final do processo, todos esquecem de quem foi a idéia, até mesmo seu criador. É claro que ali, no calor da criação, todos costumam reconhecer e dar o “crédito” ao autor da boa idéia, mas quem teve a boa idéia também não tem motivos para se vangloriar.

Geralmente, numa reunião de criação, você tem a idéia a partir de uma palavra ou linha de raciocínio de outro colega. Se o tal colega não tivesse dito aquela palavra ou frase naquele momento, você não teria aquela idéia genial. Portanto, mais um motivo para o grupo ser o dono da idéia.

Como continuar criando junto se você acha a idéia escolhida pelo seu grupo ruim? Frequentemente, a idéia não é ruim, é apenas diferente daquela que você acha boa. Pode ser pior que a sua mas, se o grupo todo gostou, a tal idéia não deve ser tão ruim assim. Então o melhor é desapegar-se da sua idéia e embarcar na idéia vencedora.

Mas se a idéia ruim é imposta pelo chefe, apesar de todos os membros da equipe acharem que ela é ruim, alguém teve uma idéia pior quando escolheu o chefe da equipe.

Às vezes você dá uma idéia e ninguém acha boa. Tempos depois, outra pessoa lança a mesma idéia e todos gostam. Se você tiver seu ego protegido lá na prateleira, não tomará isso como pessoal. Seu momento de criação se antecipou ao do grupo ou ainda não estava na hora daquela idéia aparecer. É claro que estamos falando de um grupo em que há respeito entre os integrantes e um não “rouba” a idéia do outro deliberadamente.

É muito bom quando existem laços de amizade entre colegas de equipe, mas isso não é condição básica para o trabalho de criação. Basta que as pessoas se respeitem, se admirem, gostem de criar juntas, mesmo que sejam totalmente diferentes entre si. Criar com alguém que não é seu amigo é fácil e até estimulante. Difícil é criar com um inimigo. Um mínimo de admiração, afeto e respeito são necessários para o processo de criação.

O chefe é alguém que tem mais responsabilidade, às vezes mais talento, às vezes mais experiência e, invariavelmente, muito mais estresse que os outros membros da equipe. Por isso, eles ganham mais. Tem chefe que, mesmo estando à frente de um programa de sucesso, transfere o estresse para a equipe. Outros conseguem poupar a equipe de criação e mantê-la motivada, apesar de uma audiência baixa ou outros problemas inerentes ao processo da produção audiovisual.

É óbvio que o bom relacionamento entre chefe e equipe facilita a elaboração de um roteiro mas, infelizmente, isso não quer dizer que chefes autoritários não obtenham bons resultados. A diferença é que o desgaste emocional é muito elevado, a obrigação toma o lugar do entusiasmo e, a longo prazo, a criatividade tende a diminuir.

Formar uma equipe de roteiristas que consiga somar talentos e experiências para produzir uma obra de ficção é mais ou menos como criar um gênio da dramaturgia. Porque os talentos somados geram idéias melhores, as experiências somadas dão embasamento a estas idéias e o embate de opiniões diminui as possibilidades de erro. Sem falar na grande capacidade de memória disponível numa equipe pois, sem dúvida, a memória é um grande aliado de quem pretende criar estórias.

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