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Syd Field no Brasil fala para os roteiristas.


No sábado, dia 29 de setembro, tive o prazer de participar da palestra do Syd Field, no MIS, em São Paulo. Parabéns ao Romeu di Sessa pela organização do evento. Tudo bonito, perfeito e funcionando. Recepção, café, tradução simultânea, projeção de filmes. Ótimo.

A palestra foi (me pareceu) uma das muitas que Syd Field deve ter no bolso para usar em diferentes ocasiões, o que não diminui em nada o seu valor. Afinal, ele se tornou uma espécie de ícone reconhecido tanto pelos que o detestam quanto pelos que o admiram.

Ele iniciou falando de sua história pessoal. No princípio de carreira fazia documentários, séries e trabalhou por um período com Jacques Costeau antes de pensar em cinema.

Teve dificuldades em apresentar e vender seus roteiros e passou a trabalhar como editor de enredos. Fazia a leitura e avaliação de roteiros. Depois passou a dar aulas e escreveu o primeiro de seus seis livros: ‘Screenplay’.

A maior lição que tirou de seu trabalho foi que somos todos um só povo no mundo. Nossas características humanas são universais. E o roteiro é a linguagem que nos une.

Em seguida, ele fez uma análise da evolução e revolução da arte de roteirizar. Para ele, há uma alteração fundamental entre o que era um roteiro antigamente e o que é hoje. Antes se contava uma história utilizando descrição e muitos diálogos. Hoje passamos a usar a tecnologia digital que permite contar a história de maneira bem mais visual.

Para ilustrar sua tese, apresentou cenas dos filmes ‘LookOut’ e ‘Mr & Mrs Smith’ como exemplos do moderno, que não fica explicando, apenas mostra. E citou ‘Casablanca’ como um roteiro com diálogos informativos. Elogiou esse último como obra-prima e não quiz desmerecer um em função do outro. Apenas tentou mostrar a diferença entre as formas de apresentar os personagens no passado e hoje.

Ressaltou que no cinema atual, em Hollywood, a realidade é a apresentação visual dos personagens e mencionou que na TV não funciona assim.

Em sua opinião, todo bom filme tem uma ação forte, um personagem forte e um conteúdo globalizado. Encerrou dizendo que o bom roteiro é aquele que apresenta uma soma perfeita de conflito, ação, personagem e história. Claro que ao abrir para o debate, quase nada do que ele falou entrou em pauta.

O destaque foi para a polêmica ‘receita de bolo’. Ele é até um tanto irônico para responder, deve estar cansado desse assunto. Disse que todo roteiro deve ter um começo, um meio e um fim (!…). E é apenas isso o que ele quer dizer.

Comparou com uma mesa: toda mesa tem um tampo e quatro pés. O tampo pode ser de madeira, de vidro, liso, de metal… Os pés podem ser curvos, retos, agrupados… A função da mesa independe dessas formas. Falou da diferença entre fórmula e forma.

Eu, em minha insignificância, fiquei pensando… Como nós, brasileiros, temos dificuldade para ‘marketar’. E jogamos pedras em quem faz isso bem. Para mim, Syd Field observou como uma história é contada e colocou isso no papel.

Não é uma fórmula, nem uma forma. É normal. Como um dia que tem manhã, tarde e noite. Se eu tomar café no início da manhã, almoçar entre a manhã e a tarde e jantar à noite, as coisas vão funcionar. Assim é o roteiro que ele descreve.

O roteiro que ‘funciona’ ou, na minha opinião, que ‘vende’, é aquele que tem um começo, aí tem o almoço, tem um meio, vem o jantar e tem um fim, com todos pagando o ingresso e indo felizes (ou tristes, ou pensativos, ou indiferentes) para casa.

Quem fez isso bem foi Aristóleles em sua ‘Poética’ que também analisa minuciosamente como uma história funciona. E por um bom tempo virou regra imutável. Ou até mesmo Stanislawski, que se transformou num ‘método’ para os atores seguirem e que não passava de boa observação e bom marketing.

Enfim, nada impede que eu vire a noite na balada e pule o almoço. Ou que eu faça um jejum o dia todo. Ou só coma chocolate por 24 horas (coisa que não recomendo). Pode funcionar, mas do ‘jeito Syd Field’ não dá ressaca nem dor de barriga.

Foi isso que ele devolveu para a platéia: “Do jeito que recomendo, funciona” – eu leio: rende milhões de dólares – “Vocês têm outra proposta? O que vocês propõem, funciona também?”

Depois que ele foi embora, começou o debate entre os participantes. E quase nada do que tinha sido dito até então entrou em pauta. Nossos problemas, verbas, concursos, roteiristas-diretores e roteiristas-produtores foram os assuntos mais comentados. Necessários, mas acho uma pena não podermos conversar entre nós sobre conteúdo em oportunidade tão rara como essa.

Rara e importante. Uma delícia de manhã de sábado.

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