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Sobre a WGA

Tradução de Beto Skubs.

A História da Organização

A história da WGA começa no ano de 1912, quando a Authors Guild foi formada par proteger os interesses criativos e financeiros de romancistas, escritores de contos, escritores de não-ficção e outros. Alguns anos depois, a Authors Guild uniu-se à Dramatists Guild, criando a Authors League.

Em 1921, com a chegada dos filmes, alguns membros da League formaram uma organização social chamada Screen Writers Guild, que funcionava como um braço da League e tentava melhorar – informalmente – a vida de escritores trabalhando no então não-regulamentado mundo do cinema.

Logo ficou aparente que uma organização social não era o bastante; uma associação protetora para os direitos e prospectos financeiros de roteiristas era necessária.

Em 1936, a SWG se reincorporou como afiliada da League, para irritação da indústria de filmes. Apesar do furor, uma decisão da Suprema Corte em 1937 sancionou o Ato Nacional de Relações Trabalhistas, dando ao SWG o direito de atuar como agente coletivo de barganha para roteiristas.

O primeiro contrato coletivo de barganha entre estúdios e a SWG foi assinado em 1942. Empolgada com a vitória mas totalmente desorganizada e partida por brigas internas (o que pode descrever o estado atual da WGA), a SWG mesmo assim ajudou na criação da Radio Writers Guild em 1947 e o Television Writers Group em 1950.

Com o tempo, uma estrutura de barganha coletiva dividida entre 5 organizações trabalhistas se tornou muito pesada e fragmentada, levando à confusão e duplicação de esforços. Assim, a partir dos anos 50, encontros aconteceram em New York entre líderes da Authors Guild, Dramatists Guild, Television Writers Group, Radio Writers Guild e Screen Writers Guild na esperança de encontrar uma saída para a bagunça estrutural em que eles se encontravam.

A Writers Guild of America, fundada em 1954, foi a solução para o problema. Uma única agência iria funcionar com força de barganha para todos os profissionais de cinema, rádio e TV nos Estados Unidos.

Como a indústria do entretenimento estava dividida igualmente entre New York para televisão e a Costa Oeste para cinema, a WGA foi dividida no meio, tendo o Rio Mississipi como fronteira entre as duas áreas de jurisdição.

No começo dos anos 80, a quantidade de membros da WGA era de quase 7000, sendo quase 6000 da Costa Oeste. Em 1994, esse número era próximo a 9000 membros.

Este grupo relativamente pequeno de escritores é responsável for virtualmente tudo o que se vê na TV e nos cinemas e se ouve na maioria dos radiodramas. Qualquer pessoa pode associar-se à WGA tendo vendido ao menos um roteiro para TV, cinema ou rádio como um freelancer não-membro.

Sob o Taft-Harley Act, que permite a qualquer indivíduo não sindicalizado participar de atividades sindicais de uma forma limitada, você pode vender dois roteiros antes de ter que associar-se à WGA. Mas eles vão começar a te encher para se associar assim que a tinta do seu primeiro contrato secar.

Como funciona a WGA

Depois de sua segunda venda, ou você se associa à WGA ou fica proibido de vender mais roteiros para qualquer signatário da WGA (apesar de ainda continuar livre para vender para produtores não-signatários da WGA).

Enquanto a maioria dos escritores não vê problemas nisso, alguns têm problemas genuínos com a idéia de sindicatos ou são suficientemente teimosos para não querer participar de qualquer organização, particularmente uma que pode acatar idéias ou problemas que eles não apóiam.

Isso levou a um dos problemas mais delicados entre a WGA e os outros sindicatos trabalhistas, aqueles que se apóiam em membros pagantes. Como você é obrigado a se sindicalizar, querendo ou não, as leis trabalhistas dão ao membro alguma liberdade na forma em que essa filiação pode ocorrer.

Filiação de base significa que seus deveres são um pouco (muito pouco) menores, e você ainda pode trabalhar para não-signatários da Guild, até mesmo trabalhar durante uma greve. Mas em contrapartida, você não pode votar nas eleições da Guild, servir em comitês da Guild ou concorrer a eleições, o que na prática deixa seu destino nas mãos de outras pessoas.

Filiação à Guild não é automática. Depois de fechar suas vendas, a WGA entra em contato para você se tornar associado parcial ou completo, dependendo do tipo de venda, e lhe manda um formulário.

O trabalho que você fez é então confirmado e avaliado, e a categoria de sua filiação é determinada. Você então é cobrado uma taxa inicial bem salgada (aproximadamente $900), e então você paga $25 por trimestre, mais 1 a 1,5 por cento de todos os seus ganhos dentro de jurisdição da Guild. (valores podem mudar)

E agora alguns fatos:

  1. Mesmo com o crescimento do mercado mostrado nesse livro, 9000 associados é muita gente. Existem sempre mais associados do que trabalho;

  2. Em qualquer dia, 50% dos associados estão sem trabalho;

  3. A maioria dos associados da WGA ganha menos que um professor de escola primária. Apenas 2 a 5 porcento ganham salários anuais de seis dígitos ou maiores. Em média o roteirista freelancer de TV vende de dois a cinco roteiros por ano. Muitos vendem menos. Alguns vendem mais.

  4. Sou membro da WGA desde 1978. Nesse tempo, nunca um produtor me perguntou se sou membro, então se você imagina que a filiação vai provar além de qualquer dúvida que você é um roteirista profissional ou vai lhe conferir algum tipo de status dentro da comunidade do entretenimento, ou uma senha para participar das reuniões interessantes… esqueça.

  5. A liderança da WGA frequentemente se esforça para mostrar o número de membros que conseguiu a filiação baseado na venda dos dois roteiros iniciais e nunca mais venderam nada. Eles também alegam que o número é bastante inchado, dado o número de roteiristas sem trabalho ou cuja renda principal vem de atividades que não sejam escrever roteiros. Consequentemente, a partir dos anos 90, a WGA tem criado regras mais rígidas, numa tentativa de reduzir seu quadro de roteiristas sem trabalho e criar uma “máquina mais azeitada”.

  6. A maioria das conquistas da WGA, considerada pela indústria a mais militante das associações de cineastas, aconteceu através de longas e duras greves. A greve de 1988 durou seis meses e custou a muitos membros suas carreiras e lares, perdas que duraram anos para serem reconquistadas, se é que foram.

Algo a se levar em conta sobre a WGA é que ela é composta de escritores. Isso pode ser óbvio, mas deve ser repetido para que se entenda um dos maiores problemas da WGA: escritores tem a tendência a ser criativos, excêntricos, pensadores – um de cada vez.

Agora coloque 9000 deles numa sala, muitos trabalhando em áreas diferentes, alguns como freelancers, outros como roteirista/produtor ou roteirista/diretor, com roteiristas de longa que podem não entender ou se importar com os problemas dos roteiristas de TV. Roteiristas de TV que não querem arriscar seus cheques semanais fazendo greve em benefício dos roteiristas de longa, que trabalham esporadicamente.

A maior divisão da WGA é entre freelancers e contratados, uma vez que o último tende a ser parte da administração. Isso é particularmente verdade durante greves, quando você como roteirista pode apoiar os assuntos em questão, mas você também é produtor, e a emissora quer que você entregue o programa no prazo. Roteiristas/Produtores com consciência que não atravessam essa linha podem ficar sem carreira.

O outro grande problema entre freelancers/contratados acontece em programas com equipes de roteiristas, pois os freelancers acreditam que essa estrutura limita a quantidade de trabalho para roteiristas.

Muitos freelancers gostariam de desenvolver um sistema de cotas, encorajando ou requerendo que os produtores aceitem uma certa porcentagem de roteiros escritos por freelancers; produtores/roteiristas querem manter suas opções flexíveis e usar quaisquer roteiristas que eles considerem certos para seus programas. As discussões nesta área tendem a ser bem feias.

Tudo fica ainda mais complexo pelo fato de que a WGA não age sozinha; decisões feitas entre a WGA e os estúdios podem iniciar conflitos entre a WGA e outras associações, como a dos Diretores.

Por exemplo: por mais de 20 anos, um dos assuntos mais polêmicos entre roteiristas e diretores é o chamado crédito de posse. Um crédito de posse é quando você vê na tela do cinema “Um Filme de Fulano de Tal” quando essa pessoa (geralmente o diretor) não escreveu o filme. A teoria é que, se você não escreveu o filme, não pode dizer que ele é seu. Mas acontece o tempo todo.

Ironicamente, é culpa da WGA isso ter virado problema. Originalmente, esse crédito não era concedido a diretores que não tenham escrito o filme. Esse era o acordo entre a WGA e os estúdios. Aí veio Alfred Hitchcock, cujos filmes eram tão coesos e particularmente seus por natureza que a Universal Studios pediu à WGA o uso do crédito de posse. Após pensar, a WGA finalmente decidiu autorizar, inclusive chamando o acordo informalmente de “A Cláusula Hitchcock”, mas pediu ao estúdio para usar apenas em filmes de Hitchcock.

Mas, uma vez que se permite tal exceção, o resto segue, e logo até mesmo diretores estreantes estavam colocando seus nomes em “Um Filme de”, para desespero dos roteiristas. Desde então, a WGA vem tentando renegociar o controle do crédito de posse mas tem encontrado resistência da associação dos diretores (DGA), que diz que isso viola seus contratos com os estúdios. A DGA ameaça com ação legal toda vez que o assunto é trazido à tona, com o argumento de que isso “rebaixa o papel tradicional do diretor”, mesmo sabendo que o “papel tradicional” não existia antes da Cláusula Hitchcock.

Filiação à WGA não garante sucesso nem felicidade. Apesar de ela organizar seminários e ajudar a aproximar escritores e agentes ou com escritores mais experientes através de programas de tutelagem, a WGA não procura ativamente trabalho para os associados. Apesar de organizar palestras e debates sobre vários aspectos criativos da profissão, não pretende ser escola para roteiristas.

(…)

Um dos aspectos mais problemáticos da WGA é a tendência a funcionar como club ou irmandade ao invés de união; existem panelas e círculos internos, os favorecidos (cujos rostos aparecem no jornal da associação) e os desfavorecidos (mantidos os mais invisíveis possíveis). (…)

Benefícios da Filiação

Então, porque associar-se à WGA? Bem, porque você é obrigado e porque às vezes ajuda estar na companhia de outros escritores que estiveram na mesma posição que você. Mais importante, estar na WGA permite que você continue trabalhando como roteirista para a maioria dos produtores, que são signatários da WGA. Parte do acordo em ser signatário é que os produtores não vão contratar roteiristas não afiliados.

Além disso, a WGA supervisiona todos os contratos com agentes e produtores, distribui ganhos residuais (mesmo que lentamente), arbitra determinação de créditos de roteiristas, disponibiliza um serviço de registro de roteiros e publica um jornal mensal com informações do mercado, artigos e outras informações de utilidade para roteiristas.

A WGA cria um fórum de encontro entre roteiristas, produtores e diretores no plano social; tem uma sociedade de cinema; organiza comitês que entre outras coisas analisa novas tecnologias e apóia a liberdade de expressão; e pode fazer lobby em favor dos direitos de freelancers e escritores de minorias.

(…)

A WGA opera em associação com a Association of Canadian Television and Radio Artists, a Writers Guild of Great Britain e a Australian Writer’s Guild.

Os departamentos da WGA incluem: Agentes, Requerimentos, Contratos, Créditos, Serviços Legais, Biblioteca, Filiação, Assuntos Públicos, Registro de Roteiros, Ganhos Residuais, e Signatários.

Enfim, está aí um resumo de como opera a Associação deles, com seus prós e seus contras. Quando os dedos desincharem, escrevo minhas opiniões a respeito.

Traduzido do livro “The Complete Book of Scriptwriting”, de Michael J. Strackzinski, sem publicação no Brasil. Cap. 22: The Writers Guild of America.

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