por Felipe Santangelo.
Vermelho Russo é um filme inspirado no diário de viagem da atriz Martha Nowill, que assina o roteiro do longa ao lado do diretor Charly Braun. Misturando realidade e ficção, com as atrizes no papel delas mesmas, o roteiro teve um processo intencionalmente atípico que resultou num filme emocionante e verdadeiro, que acabou conquistando o prêmio de Melhor Roteiro no Festival do Rio 2016.
Aproveitando a estreia do filme, marcada para 27 de abril, a ABRA entrevistou Martha Nowill e Charly Braun para conhecer um pouco mais sobre o processo de criação desse roteiro.
Quem lê o texto que deu origem ao filme, publicado na Revista Piauí em 2009, percebe que a essência do projeto estava lá desde o início. Por outro lado, muita coisa certamente ficou pelo caminho, e muitas coisas novas surgiram a cada etapa. Quanto tempo durou o processo? Contem um pouco sobre esse processo de roteiro que só terminou na ilha de edição.
Charly – De fato o processo só terminou na ilha de edição. Sabíamos desde sempre que se trataria de uma obra bastante aberta, permeável não apenas às mudanças nas nossas personagens (posto que elas seriam necessariamente uma versão ficcional das atrizes protagonistas) como também às condições e limitações que nossa produção viesse a enfrentar. Mas a priori seguimos o caminho trilhado de escrita de roteiro. Discutimos bastante os temas, a premissa, tentamos chegar ao que seria a essência da história para reconstruir a trama a partir daquela viagem original relatada no diário. Para isso fomos “limpando” os acontecimentos da viagem original, deixando apenas aquilo que nos interessava, ao mesmo tempo em que íamos inventando personagens e pedaços de enredo totalmente ficcionais. Passada esta etapa escrevemos um roteiro mesmo, de 90 páginas, com diálogos e tudo mais. Mas já neste roteiro deixamos arestas que não nos prendessem demais à página escrita. A maioria dos colegas de curso, por exemplo. Nem usamos aqueles que apareciam na viagem original (com exceção da Soraia, a atriz Portuguesa, que mantivemos), nem tampouco nos aprofundamos muito nestas personagens no roteiro escrito. A ideia sempre foi moldar estas personagens coadjuvantes aos atores que viessem a interpretá-los.
Martha – Eu sempre tive um filme na minha cabeça mas não tinha ideia de como chegar nele. Eu queria que o frescor e a profundidade do diário estivessem na tela mas não sabia como fazer este roteiro. No começo pensei muito em offs do diário, estava de certa forma apegada ao que eu já havia escrito. Depois, com a ajuda do Charly, fui aceitando que o roteiro seria uma nova escrita. Elegemos as tramas principais: Marta versus Manu/Sônia versus Helena, Marta e Sasha, e uma nova trama que teria que ser escrita para Manu e os coadjuvantes que sempre deixamos em aberto (salvo a história de Soraia), na espera do casting final. O roteiro foi levantado e foi amadurecendo e se desprendendo do diário. A segunda etapa aconteceu durante as filmagens. Vimos que muita coisa não funcionaria no primeiro dia de set e cortamos tramas e criamos outras. Para meu desespero inicial, diminuimos o tamanho do Sasha no filme, escrevemos coisas novas, como o teste que Manu faz para um filme do Babenco, entre outras coisas. Charly também já tinha decidido que o personagem do Tatu iria filmar a turma (um certo alter ego dele) e isso tomou um tamanho maior na Rússia com as entrevistas e a trama dele com a porteira. Foi muito intenso tudo, entrava de cabeça e me distanciava, alternadamente, na história toda enquanto filmávamos. Mas o roteiro de fato só se fechou na ilha de edição. Eu ia vendo os cortes e entendia que havia muitos filmes possíveis, uns 8, com o material bruto, mas que tínhamos que achar O filme. O Charly e a Caroline trabalharam como loucos. Eu ia e vinha e ia dando palpites, quebrando a cabeça. Um dia o Charly veio com um corte e eu vi nosso filme nele. Ele tinha achado.
O roteiro foi um guia, mas vocês tinha um time forte de atores. Muita coisa se criou durante a viagem. Como foi esse processo de improviso? E como foi quando durante a montagem vocês tiveram que abrir mão de muito do que se criou?
Charly – O que aconteceu foi que na primeira semana de filmagem, entendendo o nosso entorno, começamos a adaptar as cenas ao que tínhamos à disposição, para o bem ou para o mal. Por exemplo, tanto no diário da Martha quanto no nosso roteiro, o alojamento em que elas ficavam (e onde transcorria boa parte do filme) era um alojamento estudantil para alunos estrangeiros. Mas não conseguimos nenhum alojamento com estas características onde pudéssemos filmar (pois além de filmar a ideia era morarmos neste alojamento, elenco e equipe, dentro da ideia de fundir ao máximo possível ficção e realidade). Chegamos a cogitar um hotel meia boca, que parecia um pouco um alojamento soviético, mas fui contra, pois senti que ia contra a essência da proposta cinematográfica que tinha em mente. Pois então a produtora Russa achou um alojamento que finalmente resolveu nos aceitar. Mas ao invés de ser um alojamento de estudantes, era um antigo retiro de artistas do cinema soviético (já meio desfigurado, diga-se de passagem). Além de ser uma locação esteticamente incrível, é um lugar ainda povoado por senhores e senhoras de avançada idade que um dia trabalharam com cinema, na frente e atrás das câmeras. Imediatamente achei aquilo fascinante, pois daria a oportunidade de criarmos uma nova camada poética para o filme. Um filme sobre atrizes jovens que vão para a Russia estudar teatro mas dividem moradia com pessoas cujas carreiras no cinema já se encerraram, veja que incrível! Mas isto significava não apenas mudar várias de nossas cenas como também estar preparado para incorporar esta nova realidade à história, e assim fizemos. Coisas assim não pararam de acontecer ao longo das filmagens, o que nos obrigava a repensar o roteiro o tempo inteiro, fazendo ligeiras adaptações que mantivessem a essência e a trama principal no seu prumo. Foi um processo muito cansativo mas também muito divertido e rico, pois nos obrigava a manter o filme sempre vivo, sempre fresco. Falarei da montagem mais adiante.
Martha – A sensação que tenho é mais de recriação do que de improviso. Muitas cenas levamos ao pé da letra, se você pegar o roteiro, algumas resistiram. Muitas eram a princípio para serem improvisadas mesmo, como as cenas de curso. E algumas foram recriação de muitas coisas que eu e Charly havíamos criado ( como as cenas do Skype com o Nando) ou do que eu já tinha vivido com Manu. A gente ficou muito a vontade e fez isso com propriedade porque de fato era um território muito conhecido. Mas o mais doido de tudo: por ser um lugar próximo e conhecido foi muito difícil fazer, transformar em ficção. Entender se éramos personagens ou nós mesmas, como aquilo que havíamos vivido anos antes ainda fazia sentido para a gente. Foi um processo de auto análise constante.
Charly, como foi a decisão de adaptar o texto de Martha para o cinema?
Charly – Eu havia estudado, em São Paulo, com o mesmo professor russo que as levou para Moscou, o Valentin. Cheguei a cogitar fazer a mesma viagem que elas, mas desisti por falta de dinheiro ou agenda, não me lembro. Quando li o diário eu já tinha uma relação bastante íntima com aquela história: conhecia bem as três personagens protagonistas (o professor e Martha e Manoella, que já eram amigas do teatro e da vida). Mas o o texto da Martha fez bastante sucesso, independentemente disto, pois poucas pessoas as conheciam e sabiam deste curso ou do professor. Não tive a ideia de fazer o filme de imediato. A primeira coisa que pensei foi, “puxa, que legal teria sido ir com elas com uma câmera nas mãos e fazer um registro desta viagem”. Algum tempo depois, acho que foi vendo um filme do Beto Brant, “O Amor Segundo B Schianberg”, me deu um estalo. O filme do Beto era resultado de uma espécie de reality show que ele fizera para a TV Cultura (que, como tudo o que ele faz, tinha uma proposta muito interessante) e vendo aquilo lembrei do diário e me deu um estalo, “caramba, aquela história daria um belo filme!”. Porque eu enxergava ali algo que ia numa linha de linguagem cinematográfica que me interessa e um caminho que de certa forma eu já trilhara em alguns dos curtas e no primeiro longa. E além da intersecção de ficção e documentário, os temas ali me eram muito caros: o processo de criação artística (em especial do ator), o estar desterrado, a questão geracional, entre outros. E além disso a mistura de ficção com realidade dentro de uma história que fala justamente sobre encenação e verdade, era muita coisa boa junta, uma verdadeira salada russa!
Um filme extremamente pessoal, no qual há muito da Martha e também do Charly. Como foi a relação de vocês durante o processo de criação?
Charly – Todos os meus filmes, com exceção de um, foram escritos a quatro mãos (ou mais). Acho muito solitário e angustiante o processo de escrita, mas esta foi sem dúvida a melhor de todas as experiências. Temos um humor bastante parecido e nos divertimos muito sempre, mesmo nos momentos de maior tensão, em alguns momentos da filmagem onde tive que tomar decisões muito radicais com relação ao roteiro e que desagradavam à Martha. Ela sempre colocou a obra acima de tudo, dela como atriz e como roteirista (e originária da ideia), confiando em mim plenamente, sem vaidade e com total entrega. E eu sei que muitos filmes acabam dando errado quando se tenta interferir demais no processo de um diretor, mas nem tivemos esta questão porque a Martha entende isso e confiou plenamente na minha capacidade de dar conta disso tudo, confiando mais em mim às vezes do que eu mesmo!
Martha – Eu sempre parti do princípio que se o Charly havia se encantado com a minha história, a ponto de dedicar alguns anos da vida dele para produzí-la, não havia por que ele traí-la, certo? Então fomos lado a lado, trabalhando juntos, os dois bem espaçosos e bem respeitosos ao mesmo tempo. Eu sempre soube que ele é o diretor acima de tudo e ele também sempre levou em altíssima consideração tudo o que eu quis por ou tirar. Acho que se cada um tem segurança do papel que exerce, e não precisa ficar provando isso o tempo todo um para o outro ou para a equipe, a coisa dá certo. Acho que ele foi bem paciente comigo muitas vezes quando dei trabalho e eu com ele. Então ficamos quites em tudo.
Há pessoas que vêem o filme como documentário. Mas na prática, é tudo dramaturgia e encenação. Martha, como foi se pensar como personagem e transformar sua experiência em história?
Martha – Uma loucura. Sou eu? Não sou eu? Sou eu muitos anos atrás? Fui respondendo essas perguntas e encontrando meu clown durante a filmagem. Esse clown, ou, essa minha personalidade mais naif, ingênua, me guiou até a personagem, a Marta sem h. A verdade é que foi muito lindo tudo. Quando eu resolvi escrever o diário era porque eu achava que a experiência na Rússia seria muito rica e não queria que ela se perdesse. Naquela época não havia instagram, que de certa forma aplaca esse tipo de angústia de querer eternizar e compartilhar nossas vivências. (Nossa, me deu um estalo agora, que perigo esse negócio!) Mas aí a história da viagem não só não se perdeu, como cresceu e deu frutos.
Ainda na mesma onda: Charly, desde seu primeiro filme, realidade e encenação se misturam. Mesmo a forma como você leva o filme para a montagem se parece com documentário, com muito material e muitas escolhas a serem feitas na ilha de edição. Como você vê o diálogo entre realidade e ficção?
Charly – Aproveito para falar do processo de montagem, que foi bastante parecido nos meus dois longas. De fato esse meu “método”, (com o perdão de parecer pedante) consiste em filmar muita coisa que sei que vou acabar não usando. Neste filme tal processo foi bastante mais radical, porque o que fiz durante a filmagem foi abrir muitas “frentes”: novas personagens, várias subtramas, diferentes caminhos para as protagonistas e e inúmeras cenas puramente documentais. Voltei com 120 horas de material, um número muito mais próximo de um documentário do que de uma ficção. E aí tive o auxílio fundamental da Caroline Leone, uma grande montadora e diretora que montou o filme comigo. Passamos muito tempo batendo cabeça, experimentando mas parece que o filme ia se decantando e nos dizendo como deveria ser. De fato o que sempre nos interessava eram cenas que pareciam ser documentais. Mesmo quando claramente não eram (pela decupagem, por exemplo), as atrizes estavam tão verdadeiras que provocavam a mesma sensação. Eu gosto muito de histórias que permitem esta mistura, como era o caso. Acho muito interessante o que a realidade traz para a ficção e vice versa. Tem muita coisa neste filme, coisas que elas dizem em cena, por exemplo, que nem eu sei se elas estavam dizendo de verdade ou se estavam na personagem. Há uma mistura muito, muito forte neste filme. A cena da entrevista com a Soraia Chaves é uma grande cena e ilustra perfeitamente isto. Eu não faço ideia se ela dizia a verdade ali ou se estava inventando em cima de uma realidade dela, mas inventando. Nunca saberei. Mas acho que essa mistura dá muita alma aos filmes que sabem fazer uso dela, e eu me interesso apenas por filmes com alma.
A Manu que vemos no filme foi “escrita” pela Martha, mas foi interpretada por ela mesma. Martha, como foi a participação da Manu nesse processo, e como foi lidar com essa relação em público?
Martha – Eu acho que em algum momento eu tentei diminuir a personagem da Manu. Admito. A Marta personagem estava invadindo a Martha roteirista e tentando boicotar a Manu personagem para tentar ficar com todo o filme só para ela. Mas olha, essa infantilidade durou pouco, até porque eu sempre soube que filme só ficaria bom com força nas duas personagens e o Charly também controlou a minha loucura. A Manu ficou bem desesperada no começo do processo de roteiro, achando que a trama dela estava fraca e continuou meio insegura na filmagem, sem entender se as coisas iriam se encaixar no final. Acho que ela se apoiou muito em mim, e eu nela. E nós duas no Charly, que eu não sei aonde foi se apoiar. E tem uma parada que se chama fé cênica, e foi meio por aí que ela foi, acho.
Quanto à trama dela: eu conheço muito bem a Manu e sempre achei que a chave da personagem dela estava no nosso desentendimento e numa solidão que ela sentia muito na primeira viagem que fizemos em 2008. Uma solidão assistida e invadida por aquele grupo todo de gente. Ela queria estar sozinha mas não conseguia de fato ficar só. E acho que o caminho que o Charly deu para ela, a trama que criamos e esse sentimento em mente acabaram moldando bem a personagem dela.
Acho que nossa relação ficou bem exposta para o público, mas ao mesmo tempo me sinto protegida pela ficção e pelo fato de eu amar o filme como uma coisa externa a tudo isso.
O teatro é totalmente central na história do filme. Ao mesmo tempo, teatro é visto como “difícil” de filmar por muitos diretores. Vocês sentiram dificuldades durante o processo? Como vocês lidaram com isso, tanto no roteiro quanto na filmagem?
Charly – Teatro filmado é das coisas mais chatas que existem. Fiquei apavorado com esta questão, então decidi que as aulas seriam “de verdade” e filmaríamos tudo. Acontece que elas estavam ali para fazer um filme, e não um curso. Ou seja, não havia como elas evoluírem muito nas aulas porque elas não estavam dedicadas àquilo, elas não saíam da aula e iam estudar ou ensaiar, elas saíam das aulas e tinham um monte de cenas para filmar de um filme do qual eram as protagonistas. No meio do processo resolvi diminuir o volume de aulas e comecei a dirigir mais estas aulas com o professor, a tentar arrancar cenas mesmo, ações dramáticas dali. Mas acho que o que tira a chatice do teatro filmado é que, além de não ocupar tanto tempo no filme como um todo e estarem bem espaçadas ao longo da obra, elas se relacionam organicamente com o que está acontecendo fora das aulas. Então elas fluem bem, porque são parte integral da história. Isto já estava pensado no roteiro, já vinha bem misturado, bem delimitadas as cenas, depois eu escancarei filmando tudo e finalmente na montagem voltei um pouco a este conceito que estava presente no roteiro e acho que funciona muito bem. Ajuda bastante que nas aulas temos muitas interferências do professor e ele fala coisas muito interessantes, que saem do âmbito do teatro, da atuação. Ele sabia falar sobre o teatro relacionando-o à vida, e isso dá muita riqueza às cenas.
Martha – Acho que o Charly sempre soube como filmar essas aulas e ele conduziu isso muito bem ( estetica e estrategicamente falando) e muitas vezes não me contando as coisas de propósito. Às vezes eu me irritava, sou CDF, queria fazer o curso mais a sério, com mais tempo e sem ele interferir. Mas ele estava certo na forma como conduziu. Já na época da montagem eu sentia muita falta das aulas no filme, eu sabia que era fundamental que a evolução das atrizes no curso e a briga das personagens do Tchekov, deveria dialogar com a vida real das personagens para o filme todo fazer sentido. Isso já estava escrito no roteiro mas demorou para encaixar na montagem. Quando encaixou tudo fez mais sentido.
Como vocês se sentiram sendo premiados no Festival do Rio?
Charly – Primeiro achamos que era um prêmio bastante inusitado: premiar o roteiro de um filme que não teve um roteiro propriamente, no sentido que o que escrevemos era muito diferente ao que o filme virou. Mas o júri não julga isso, ele julga aquele roteiro ali naquele filme que está vendo, aquilo ali é um roteiro, não importa como se chegou a ele. E acho que um prêmio de roteiro é, de certa forma, um atestado de que o filme funciona. Porque um filme pode ter uma fotografia incrível, uma grande atuação, ser premiado nestas categorias mas pode ainda assim ser um filme fraco, frouxo. Mas se o roteiro é bom e funciona o filme necessariamente funciona, então acho que o prêmio é super importante neste sentido. Fiquei desapontado apenas que as atrizes, ambas, não tenham sido premiadas também, porque o trabalho delas é extraordinário e é muito difícil fazer o que elas fazem.
Martha – Estranha a princípio, e depois recompensada por tanto trabalho. De resto, achei ótima essa resposta do Charly aí em cima!
Quais os próximos projetos de vocês?
Estou terminando de escrever um roteiro novo e tem sido um grande desafio, pois trata-se de um filme que quero fazer da mesma maneira, misturando ficção e realidade, usando a linguagem documental, com bastante improviso, mas é um filme que parte de um lugar mais da ficção mesmo. Como então chegar a um roteiro robusto, bom, mas que ainda deixe espaço para a invenção? Eu acredito que um roteiro não deve ser extraordinário, pois ele não é uma obra acabada. O roteiro é como a planta de uma casa: as pessoas não vêem a planta, só quem faz a casa. O que importa no final é a casa, e a casa é muito mais do que sua planta, entende? Então eu vejo o processo desta forma. Quando formos construir a casa de repente vamos sentir que ela precisa ter mais um banheiro, ou que é legal que ela tenha o telhado de concreto e não com telhas, ou que a sala e a cozinha sejam integradas… acredito que estas plantas são isso, rascunhos de uma obra, não a obra em si. Por isso quando leio roteiros muito “redondinhos” fico meio desconfiado. E muitas vezes você pega uma cena que parece super bem escrita e vai filmar e fica uma merda, fica falsa, é muito louco isso. Então estou tentando entender como adaptar este meu processo fílmico na parte da escrita, porque agora estou lidando com personagens de uma idade muito diferente da minha, com questões que me são bastante alheias (embora seja um projeto bastante pessoal também). Tem sido bom porque me permite fazer pesquisa, que eu adoro. Estou desenvolvendo também uma série documental política, um projeto muito interessante, que tem muito potencial, mas muito difícil. Estou apavorado!
Martha – Bom, estou contando com a chuva de convites que vai cair na minha horta para os mais diversos projetos depois que Vermelho Russo estrear. Fora isso, eu quero contar a história de uma mulher que conheço e interpretar o papel dela em um filme. É uma história que me motiva, mas ao contrário de Vermelho Russo, não tem nada a ver comigo. Por enquanto estou na fase das entrevistas e de ver como a história toda da vida dela pode virar um filme de uma hora e meia, e qual é o recorte que vai me levar. Muito trabalho pela frente.
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