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O Patinho Feio


Recentemente circulou na lista da Associação dos Roteiristas uma “oferta” de trabalho para um vídeo institucional, cuja produtora queria pagar 200,00 pelo roteiro. O vídeo era para comemorar um lançamento de uma empresa, num investimento de 1,5 milhões de reais.

É no mínimo uma falta de respeito. Mas o mercado de institucionais é daí pra pior.

Existem problemas em várias pontas do processo e acho que cabe ao roteirista valorizar um pouco mais este tipo de trabalho. Para dar um impulso ao mercado e a situação começar a clarear.

Muitos roteiristas possuem certa ressalva ao vídeo institucional. É como o lado pequeno da profissão. Mas, assim como eu, outros profissionais pensam o contrário. A massa de pessoas que pensam o contrário precisa crescer.

Além de pagar as prestações das Casas Bahia, o vídeo institucional é uma boa oportunidade de trabalho. Uma escola. É em minha opinião um mercado que precisa ser mais bem explorado e principalmente organizado.

São muitas as pessoas envolvidas no processo: a empresa, a agência (as vezes), a produtora e o roteirista. Em raros casos o roteirista está ligado de forma fixa a qualquer uma das pontas do processo de criação do vídeo institucional.

Até mesmo as agências não gostam de lidar com a peça: enche o saco. Já ouvi várias vezes. Mas, todos concordam que é muito importante.

Como as agências não se interessam muito pelo tema, as produtoras, e agora mais recentemente as produtoras de eventos, aproveitam a brecha para cuidar da criação do vídeo corporativo. E existem produtoras A+ até aquelas que funcionam dentro do celular de uma única pessoa. Não tem como modificar isto. Cada empresa contrata quem quer, conforme seus critérios internos.

Acrescento também à lista de problemas o fato de que as gerências de makerting e RH, em sua grande maioria, não estão preparadas e informadas para tratar da comunicação eletrônica de suas empresas. Muitas embarcam em verdadeiras roubadas sem nem saber o que está acontecendo.

Posso citar como exemplo uma grande montadora que estava lançando uma campanha enorme para seu novo caminhão. Depois de tudo pensado, criado e produzido, alguém do marketing lembrou que precisava fazer um vídeo para treinar as pessoas envolvidas no lançamento. A verba de vinte milhões de publicidade já tinha acabado e era preciso fazer o vídeo com uma verba de 15 mil reais. Um vídeo de oito minutos, com computação gráfica, três diárias, locutor e tudo mais, inclusive roteiro. Este na verdade é um exemplo até que razoável, já vi casos bem piores.

A necessidade pela “ilustração eletrônica” da comunicação corporativa tem feito o mercado lembrar do roteirista. Mas isto não quer dizer que é um mercado em ascensão.

O mercado está muito desorientado, para falar o mínimo, em relação ao vídeo institucional. Acho que cabe a Associação mostrar não só às agências, mas também às empresas e produtoras o que é, qual a importância e principalmente que isto tem um custo.

Vejo que a valorização é o caminho. Fazer com que o trabalho do roteirista na comunicação corporativa seja mais conhecido é uma forma de melhorar as condições de trabalho. É preciso escrever não só para o formato vídeo, mas para a internet, para eventos, para programas de rádio, peças de teatro corporativas, ou qualquer outra necessidade que venha a ser criada. Os roteiristas precisam estar preparados e dispostos a cumprir esta demanda.

Praticando a profissão sem aceitar cachês abaixo da tabela, não escrevendo nada de graça. Cabe a nós batalhar realmente pela regulamentação da profissão, criar o costume do contrato e mostrar que roteiro não dá em árvore. São muitas as sugestões que estão sendo pensadas pelas comissões da Associação dos Roteiristas, uma coisa é certa: não dá para aceitar 200 reais de cachê, isto é uma ofensa.

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