Congresso da ABTA mostra que telefônicas e operadoras de TV por assinatura vão disputar palmo a palmo um mercado emergente
O congresso da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) 2006, realizada em São Paulo entre 1 e 3 de agosto, foi uma oportunidade muito interessante para saber como andam as coisas no mundo maravilhoso da TV paga.
Este setor, que prevê um crescimento de 10% em 2006, vai tomando um espaço que as TVs abertas não podem (ou não querem) ocupar, no que diz respeito à segmentação da programação.
Para nós, autores e roteiristas, a discussão onipresente se as telefônicas devem ou não distribuir o sinal das operadoras (o famoso pacote triple-play, que inclui transmissão de dados, voz e conteúdo, como já o faz a NET Digital), parece muito distante, mas não nos iludamos – em breve o direito autoral vai sofrer uma nova revolução, e é bom estarmos muito ligados porque os contratos deverão incluir estas novas formas de exibição.
Isto posto, meu olhar foi o de mero espectador, passeando por entre os estandes que ofereciam produtos os mais variados. Um bom exemplo é o do corredor central: de um lado, o espartano estande da TV pan-árabe Al Jazzeera (que ficou fechado todo o tempo, vai que alguém do Mossad botava uma bomba lá…); logo em frente, a pecaminosa tenda do produtor de vídeo eróticos Buttman, com enormes displays de deusas calipígias em fio-dental.
Ou seja, da severidade muçulmana à decadência capitalista em apenas cinco passos… Isso é que é democracia! Muitos dos canais das TVs pagas estavam representados, com os indefectíveis bonecos infantis, brindes que iam de canetas a catálogos e até mesmo uma tenda para maquiagem patrocinada pelo programa “Superbonita” do GNT.
TEMPO QUENTE NO ANDAR DE CIMA (2)
Marcus Veras
Assisti ao Painel 1, “O Melhor do Triple-Play: Vender, Entregar e Cuidar”, que proporcionou momentos muito divertidos à platéia. Francisco Vali (Net Serviços) Leila Loria (TVA), Chris Torto (Vivax), Luiz Eduardo Baptista (Sky/Directv) e Ricardo Knoepfelmacher (Brasil Telecom) falaram das perspectivas do negócio em 2006, mas o filé mesmo foi o embate entre Valim e Knoepfelmacher, que foram colegas na Telefônica e hoje disputam o mercado quase aos tapas entre a Net e a Brasil Telecom.
Valim acusou a Telecom de “dumping”, de roubar seus executivos, de praticar preços incompatíveis com o mercado baseada na sua força econômica, de copiar suas estratégias e por aí afora. A cada farpa, Knoepfelmacher respondia de forma bem-humorada, mas ficou claro para todos que o clima anda quente no andar de cima, pois todos pretendem abocanhar fatias bem gordas do mercado que está se consolidando.
Outra notícia interessante é que a NET vai estrear um projeto-piloto em uma favela carioca, oferecendo TV a cabo por apenas 15 reais para combater o “gato” que rola solto no pedaço. Melhor ganhar algum do que nenhum, convenhamos, e além disso o projeto leva o selo da inclusão social, o que hoje vale ouro para as empresas.
Resta saber como os donos do pedaço (incluindo aí os traficantes) vão reagir à investida, lembrando sempre que, por exemplo, a Light, já desistiu de mandar seus cobradores às favelas para não vê-los corridos à bala.
Quanto à fusão Sky/Directv, poucas notícias, pois o presidente Luiz Eduardo Baptista (Bap para os mais chegados) foi bastante econômico sobre o que vem por aí, desde o nome da nova empresa até a troca de decoders (para quem assina a Directv). Certo mesmo é que a Sky/Directv, por enquanto, não vai investir do triple-play que tanto fascina as outras empresas.
Na hora do almoço, numa mesa que reunia executivos de empresas variadas, tentei vender o nosso peixe autoral, mas todo mundo me olhou como se eu fosse de outro planeta e decidi mudar de tema. Na verdade, somos mesmo de outro mundo– criamos o conteúdo, enquanto eles embalam e vendem.
Pelo sim, pelo não, é fundamental que fiquemos de olho nas novas formas de transmissão de nossas criações e criaturas, pois se surgem novas oportunidades de trabalho, também é grande a possibilidade da utilização de produtos já criados serem requentados para exibição via computador, celular, geladeira ou bicicleta ergonômica… Sabe-se lá aonde a tecnologia vai nos levar!
Um exemplo é a poderosa “slim-box”, aparelho que conectado ao lap-top permite que o cidadão, em qualquer parte do mundo, assista à programação da TV direto do decoder que está instalado na sua casa. Coisa de doido, seu! Ou, como diria o Silvio Luiz (aquele locutor esportivo do “pelas barbas do profeta”), olho no lance!
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