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Telão e Telinha

Em Sunset Boulevard (ou Crepúsculo dos Deuses, no título brasileiro), do pai-de-todos-nós Billy Wilder, há uma cena em que o personagem do William Holden explica o que é ser roteirista. Não vou lembrar das palavras exatas, mas ele diz algo mais ou menos do tipo: “A gente passa o dia inteiro escrevendo os diálogos dos atores e atrizes, mas o público pensa que eles falam tudo de improviso”.

O personagem era roteirista de cinema, mas o que ele diz vale também — e muito — para os roteiristas de TV. O roteiro é imprescindível na criação de qualquer obra audiovisual que queira ter pé e cabeça, mas o roteiro, ele mesmo, não é nem áudio e nem visual. É texto. Palavras. Bits.

Ao contrário de um texto literário ou mesmo de uma peça de teatro, um roteiro não tem vida própria. Um roteiro de audiovisual não é a obra. É um meio para se chegar à obra. É um manual de instruções a ser seguido pelo diretor, produtores, atores, iluminadores, e mais uma infinidade de outros profissionais.

Um roteiro para a tela grande é muito parecido com um roteiro para a miríade de telinhas pequenas. No entanto, há diferenças. A televisão é prima do cinema, porém é filha do rádio. Quando você, querido leitor, vai ao cinema, você paga ingresso e senta numa sala escura, diante de um telão imenso.

Como espectador de cinema, portanto, o seu tempo de atenção é razoavelmente longo. Você está preso naquela sala. E só existem duas possibilidades de você sair correndo antes dos créditos finais: se o filme for muito ruim ou se o cinema estiver pegando fogo.

Como espectador de TV, ao contrário, meu amigo leitor, o seu tempo de atenção é curtíssimo. A televisão é um eletrodoméstico. Você chega em casa, liga, vai ao banheiro, volta, dá uma olhadinha, resolve ir à cozinha fazer um lanche, ou então pega o controle remoto e exercita a musculatura do polegar, fazendo zaping.

Um programa de TV tem, no máximo, uns dez segundos para captar a sua atenção. E como se faz isso? Com belas imagens, sim. Mas, principalmente, com diálogos.

É sempre arriscado fazer longas cenas de ação sem diálogos em programas de TV. O espectador que acabou de ligar a televisão fica sem ter a menor idéia do que está acontecendo. E muda de canal.

Para evitar essa fuga do público e mostrar direitinho o que está acontecendo, os personagens precisam falar o tempo todo. Se for absolutamente imprescindível incluir uma longa cena de ação sem falas, bom, aí é aconselhável escrever no roteiro um recadinho do tipo atenção sonoplastia: música-tema do personagem, e torcer para que a melodia preencha os buracos de silêncio.

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