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O que pensam as roteiristas finalistas do prêmio Cabíria: Georgina Castro

Por Melina Guterres, Jornalista e roteirista associada a Abra

O prêmio Cabíria de roteiros que estimula o protagonismo feminino no cinema, em 2017 teve 120 roteiros e 30 deles foram indicados como semifinalistas por um Comitê de Seleção que contou com 20 roteiristas mulheres voluntárias. Depois de mais de 4 meses de trabalho, os roteiros finalistas indicados pelo Júri de 2017 foram: Continente de Thaís Fujinaga – Prêmio Cabíria (Melhor Roteiro com Protagonista Feminina): R$ 7.000,00 (venceu o prêmio pelo segundo ano consecutivo), Hamster, de Georgina Castro – Prêmio Incentivo às Mulheres Roteiristas: R$ 3.000,00*, Aqueles olhos de carvão aceso, de Isabella Poppe – Tradução para o francês oferecida pela empresa francesa Manivane, A Terra e os Sonhos de Cássio Pereira – Consultoria de roteiro: oferecida pelo Maquinário Narrativo.

É importante recordar que das 2.583 obras audiovisuais registras na ANCINE em 2017, somente 17% foram dirigidas por mulheres e 21% são de autoria feminina. O Boletim GEMAA 2: Raça e Gênero no Cinema Brasileiro (1970-2016) mostra que histórias narradas nos filmes nacionais de grande público têm protagonismo maior de homens (62%), quase todos brancos (50%). As mulheres somam apenas 39% desse resultado, que cai dramaticamente numa proporção de 18 para 1 se considerarmos as protagonistas negras.

A Abra está realizando uma série de entrevistas com os protagonistas do prêmio. Já falamos com a Thais Fun Fujinaga e, agora, vamos falar com Georgina de Castro, vencedora do Prêmio Incentivo às Mulheres Roteiristas.


Georgina é atriz, roteirista e professora de interpretação. Estreou no Cinema em 2006 no elenco central do premiado longa-metragem “O Céu de Suely” de Karin Ainoüz, atuou em cerca de 14 filmes, 12 peças teatrais,  participou em séries de TV, entre elas a espanhola “Descalço sob la terra Vermella.”, e a série francesa “Crime Time”.  Estreou como Roteirista e Cineasta em “Pão Com Mortadela” vencedor do prêmio SESI FIESP de Melhor Curta-Metragem Paulista 2009. Escreveu e atuou no Monólogo “Porão” e atualmente desenvolve o roteiro de seu primeiro Longa-Metragem “Hamster” que foi vencedor do Cabíria. Confira a sinopse do roteiro e o papo com Georgina:

ROTEIRO: HAMSTER

Sinopse: Um pensionato feminino retratado a partir do ponto de vista de Luiza, a mais introspectiva das moradoras. Onde mulheres de diferentes idades e regionalidades moram na mesma casa, mas pouco dialogam entre si. Negra, nordestina, o único real companheiro que Luiza tem na casa é um Hamster, que ela cria secretamente. A chegada da mais nova inquilina, de personalidade oposta a de Luiza, desencadeia uma série de transformações dentro da casa e um novo grau de amizade e solidariedade entre as mulheres.

Como nasceu a ideia do seu roteiro?

Em 2005, quando cheguei em São Paulo, morei alguns meses em um pensionato feminino, éramos dez mulheres na casa.  Foi uma experiência tão rica… E isso ficou reverberando em mim durante ainda muito tempo. Como nordestina, morando aqui, sempre observei essa questão do não pertencimento, de sentir-me como uma estrangeira na adaptação do novo lugar. Alguns anos depois, escrevi uma primeira versão do HAMSTER em curta-metragem, mas engavetei. Só em 2015 comecei a trabalhar na construção do roteiro para longa-metragem.

O que você prioriza na construção de seus personagens?

Talvez por ser atriz, quando estou escrevendo, me coloco na situação de cada personagem, procuro vivenciar tudo aquilo. O HASMTER é um roteiro bastante sensorial, em que as personagens se constroem pelo não dito, pelo que fica suspenso. Isso é algo que me interessa muito, essa suspensão. Assim como as relações que elas vão estabelecendo entre si. Para mim, tudo parte disso.

Que tipo de roteiros você gostaria de assistir mais na tv e cinema?

Roteiros que tragam personagens femininas fortes como protagonistas… Por mais que nos últimos anos isso venha se intensificando, ainda estamos bem longe de uma igualdade. Além de uma diversificação dessas personagens. Precisamos de mais negras, índias, orientais… Roteiros contem histórias de personagens que possam fugir dos estereótipos do que geralmente (ainda) vemos muito na TV e no Cinema.

Já possui novo roteiro em mente? Pode adiantar algo sobre os temas? O que gostaria ainda de escrever?

Algumas ideias e rascunhos, mas tudo ainda longe de ser amadurecido. O HAMSTER é meu primeiro roteiro de Longa-Metragem e por enquanto meu foco está no amadurecimento dele e na busca de recursos para filmá-lo.

Saiba mais sobe o prêmio Cabíria:

Releia a entrevista Com Marília Nogueira para Abra:

Melina Guterres

Jornalista, roteirista, diretora, atriz, poetisa, ativista, fundadora Rede Sina (www.redesina.com.br), trabalha com produção de conteúdo, consultoria em comunicação. Tem curtas e vídeo clipe realizados como roteirista e diretora realizou extenso trabalho sobre ditadura militar no Brasil e América e produziu de seu primeiro roteiro de ficção de longa-metragem  “Clandestinos”  selecionado no Programa Ibermedia em 2009. Escreveu a série infantil “Despertos” para Panda Fillmes. Foi Jurada do Rota Festival de Roteiros do Rio de Janeiro e I Festival de Cinema Estudantil – CINEST. Como repórter trabalhou para Folha de São Paulo, Estadão, Uol na cobertura da tragédia da boate Kiss.  Estudou questões de gênero em disciplinas na pós-graduação da comunicação e teatro da USP. Além disso, fez cursos de interpretação com Fátima Toledo, Estrela Straus, Olga Reverbel entre outros. Foi presidente da Liga Jovem de Combate ao Câncer. Idealizadora de campanhas sociais. Criou e gerencia as fan pages e Salve Índios e As Mulheres que Dizem Não.  Mais em: www.melinaguterres.com

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