Por Felipe Moreno
A força do olhar é terrivelmente paralisante na televisão. Quando, por exemplo, assistimos ao momento crucial entre o embate de dois personagens numa situação eminentemente dramática, ficamos pensando no sentido da representatividade do olhar na tevê, ou melhor dizendo, na teledramaturgia.
Tal gesto acompanhado de uma fermata – ou apontamento musical – nos remete ao ribombar das caixas que repercutem o ápice instantâneo de uma gravidade inexorável de que o agora não será mais igual ao antes.
Interessante como a televisão usa o olhar para hipnotizar os telespectadores. Hipnotizar no sentido subjetivo da palavra, isto é, do aspecto transacional de produzir encanto no observador que parece mergulhado em sentimentos e percepções tão particulares quanto profundas.
O olhar do personagem acompanhado do silêncio atormentador que precede a alguma conseqüência fatal, transmite ao espectador o sentido de espetacularidade, de grandiosidade, no sentido estético do termo. É quando as sensações afloram e a expectativa atinge o auge da emergência, da situação crítica na qual alguma coisa muito espetacular deve acontecer.
Talvez aí resida um dos fatores mais curiosos da arte de fazer teledramaturgia. O espectador sabe ou pressente o acontecimento pelo olhar dos personagens envolvidos na ação dramática. Sabe que os humores e temperamentos são sempre semelhantes em reação, pois os homens reagem geralmente dentro de algumas particularidades mais ou menos esperadas – e já conhecidas do espectador -, mas, mesmo assim, causam sempre interesse por sua consecução e espetacularidade.
É assim que a grandiosidade da tevê encanta seu público, na pele do seu personagem favorito que está sempre “surpreendendo” com suas reações conhecidas.
Os signos na tevê parecem não querer nunca se esgotar, pois o público não se cansa de assistir às mesmas estórias, aos mesmos comportamentos, às mesmas atitudes, aos mesmos sentimentos que tanto podem enobrecer como aviltar a natureza humana da qual fazem parte os seres habitantes dos dois mundos – real e fictício.
Quando o espectador se depara com aquele olhar magnetizado ou injetado de alguma paixão tem a sensação de que o tempo se encurtou, se minimalizou em um instante em que nada no mundo pode ser mais interessante do que a conseqüência de um ato esperado.
O personagem lhe responde atuando e lhe revelando o sabido – mesmo o surpreendente já foi imaginado ou intuído -, e a vida nunca mais será a mesma, talvez o personagem revele uma faceta até então encoberta e o espectador também se modifica em relação a ele, ora se encantando ora se decepcionando. O jogo dualista triunfa mais uma vez.
O gostar e não gostar do espectador são faces da mesma moeda maniqueísta tratada na estória a que assiste, em que bem e mal disputam a predominância investidos em personagens simpáticos e antipáticos.
Este é o mundo do olhar. Da busca pelo que se esconde atrás de um brilho intenso que reflete emoções diversas e que uma câmera consegue traduzir. A tevê é a lente de aumento através da qual vemos o mundo grandioso das emoções humanas.
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