O Grupo de Trabalho Mulheres e Gênero da Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA) tomou conhecimento do teor das denúncias de assédio sexual e moral atribuídas ao humorista Marcius Melhem relatadas pela reportagem da revista Piauí na edição 171 e, por meio desta carta, presta solidariedade incondicional às vítimas e repudia veementemente todas as situações relatadas na reportagem. Esperamos que os fatos sejam apurados e julgados com rigor pela justiça.
Manifestamos ainda apoio total à promessa do CEO da empresa empregadora das vítimas, de rever processos internos da organização, pois entendemos que o acolhimento às mulheres violentadas, bem como celeridade nas apurações e eventuais sanções aos responsáveis por casos de violência contra mulher sejam prioridade. Das mais de quarenta pessoas, entre vítimas de assédio e testemunhas, escutadas pela reportagem, a maioria decidiu permanecer no anonimato. Segundo consta, “os motivos são diversos: evitar atritos com a Globo, prejuízos às suas carreiras profissionais ou mesmo ações judiciais.”
Enquanto entidade que zela pela integridade e proteção de seus profissionais, a ABRA se posiciona contrária a qualquer cultura de silenciamento ou medo que possa prevalecer em ambientes institucionais ligados ao audiovisual.
É fundamental que produtoras, players e demais entidades profissionais disponham de canais em que pessoas vítimas de qualquer tipo de violência sintam-se seguras para denunciar o ocorrido, sejam acolhidas e não sejam submetidas a outras formas de violência. Também é de suma importância criar mecanismos de investigação cuidadosa e responsável, bem como adoção das punições cabíveis, de forma a não coadunar com qualquer tipo de violência e tornar mais saudáveis as relações de trabalho no mercado como um todo.
Como uma associação que representa as pessoas autoras roteiristas e que defende o exercício pleno de sua função, temos a obrigação legal, moral, ética e profissional de combater todo o tipo de assédio, preconceito ou discriminação. A ABRA reafirma seu total repúdio a todo e qualquer tipo de discriminação e violência.
O Grupo de Trabalho Mulheres e Gênero, em parceria com a diretoria da associação, busca o enfrentamento das violências de gênero que ocorrem em nosso meio com medidas educativas que promovam ambientes de trabalho seguros e que respeitem e valorizem todas as pessoas.
Atualmente, dentre outras ações, está em processo a criação de uma cartilha para que as salas de roteiro sejam ambientes livres de violência, estabelecendo condutas anti assédio para proteger todas as pessoas autoras roteiristas. Ambientes tóxicos de trabalho são um obstáculo para a criação e o livre pensamento e prejudicam o desempenho de toda cadeia do audiovisual. Isso precisa acabar. Apenas com um movimento conjunto e vigilante, com uma rede de apoio sólida e fortalecida, poderemos eliminar a violência no cotidiano profissional.
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