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“Nem Tudo É Verdade” de Rogerio Sganzerla

Em 1985, eu trabalhei com o Rogerio Sganzerla, numa época onde fazer cinema estava ficando cada vez mais difícil, foi o final de uma era de muita produção, anterior ao governo Collor, que acabou de vez com o pouco que restava de produção Cultural neste país.

O Rogerio Sganzerla , estava nesta época as voltas com o primeiro filme dele em homenagem ao Orson Welles, o ” NEM TUDO É VERDADE”.

Ele me chamou para trabalhar com ele, neste filme, que não acabava nunca. Quando eu fui assistir ao filme, fiquei completamente fascinada com o material e o seu potencial, que resolvi aceitar seu convite para finalizar.

Depois de muitos problemas financeiros e muita briga entre nós dois, por conta de eu ter proposto para ele uma mudança radical em cima de tudo que ele já havia feito e achava ser o FILME, quase pronto, chegamos a um acordo, e ele comprou minha idéia.

Foi difícil para mim trabalhar com este gênio, e ao mesmo tempo conseguir transformar seu pensamento, fazendo com que ele aceitasse o que eu propunha em relação ao formato final do filme.

Foi um processo muito longo e cheio conflitos. Desta experiência eu escrevi um texto, como uma homenagem minha a este grande cineasta que foi o Rogerio Sganzerla.

A coisa foi tão complicada, que no dia que saiu a primeira cópia no laboratório, ainda estávamos lá dentro para assistir a cópia zero, quando deu no rádio que o Orson Welles tinha acabado de morrer.

Assim como este caso, aconteceram muitos outros durante todo o processo, pena que não deu tempo do Orson Welles assistir, pois era o que ele mais queria neste período que antecedeu sua morte.

Sempre mantínhamos contato com ele, na medida do possível é claro, às vezes para esclarecer alguma dúvida em relação à cronologia dos fatos, outras para entender melhor tudo que se passou.

Pena que ele morreu sem assistir à versão brasileira do seu “É TUDO VERDADE ” ( IT`S ALL TRUE ). Com este filme eu ganhei o Kikito de melhor montagem em 1987, no Festival de Gramado.

Inverno de 1985.

Um nome conhecido de um homem para mim desconhecido. Duas rotas seguindo o curso da vida. Um encontro suave, igual ao oceano em calmaria. Depois um vento sudoeste, ondas e mais ondas.

Uma tempestade escura. Todo o oceano para ser navegado. O Inesperado. Uma amizade conquistada. Navegar na tempestade sem bússola. Velejar sem rumo, acreditar na criatividade. Solucionar o desconhecido, remar contra o inatingível.

Se entregar de corpo e alma. Mesmo sem querer nem nada. Fluir a emoção. Trocar idéias, Criar uma epopéia. Viva o Tumulto!!!!!!!!!

Combater a Inércia. Ter firmeza na postura. Enfrentar o desafio de contar uma história. Enfrentar a leitura dos carentes e dos auto-suficientes. Uma história especial sem efeitos especiais. Imagens concretas de lembranças sem texto. Parece coisa da Alma.

Todos os capítulos nascendo de um mesmo fascículo… Uma viagem ao passado. Uma semelhança enorme com o presente.. CABRAL descobriu o Brasil e ai? E depois? Ninguém nunca previu…

Parece mentira. Um filme de verdade com uma linguagem cinematográfica maliciosa. Uma nova descoberta. Um afeto pela imagem. Um afeto que afeta aos olhos de quem vê. Uma historia de verdade, contada a partir de uma série de mentiras. Experimentem!!!!!!!!!!! Vale o sorriso no final.

1986

Texto Denise Fontoura – Montadora e Editora do filme “Nem Tudo É Verdade” – de Rogerio Sganzerla

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