Lúcio Manfredi é escritor e jovem roteirista da Rede Globo.
Formado em Filosofia na USP, escreveu ficção científica e participou ativamente dos fanzines Megalon e Somnium.
(excelente!) mini-série “Um só coração”?
P:Como ocorreu de você te sido “arregimentado” pela maravilhosa “casa das idéias” da toda-poderosa-vênus-platinada, integrado atualmente o quadro de roteiristas da
Lúcio Manfredi: Essa é uma história bem louca. Desde os nove anos, que foi quando comecei a escrever, toda vez que me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, invariavelmente eu respondia: escritor. Mas nunca tinha me ocorrido que escrever todo santo dia, como eu fazia, (…), achava que era complicado viver de escrever no Brasil. E a minha vida profissional foi seguindo outros caminhos mais aleatórios, (…)
Até o dia em que me ocorreu o óbvio ululante. (…), que um roteirista também é um tipo de escritor, alguém que é pago pra escrever profissionalmente (…). Não fazia a menor idéia de como alguém se torna um roteirista, (…). E então, a sorte veio ao meu encontro, porque exatamente um fim-de-semana depois que eu larguei o emprego, saiu no jornal um anúncio da oficina de roteiristas que a Globo promove periodicamente pra formar novos autores. (…)
Foi um período muito cansativo, porque além das viagens serem exaustivas, tinha uma batelada de exercícios pra fazer entre uma aula e outra. No meio da oficina, eu simplesmente pifei. Cheguei no fundo do poço em termos de exaustão e, um dia, desmaiei na casa de uma amiga que estava fazendo a oficina comigo. (…)
Mas esse não foi o fim da história porque, no final da oficina, eu não fui contratado. As aulas tinham uma carga de informação muito grande e, pra quem não tem familiaridade nenhuma com dramaturgia, é praticamente impossível absorver tanta coisa de uma só vez, precisa de um tempo pra digerir aquilo tudo. Voltei pra casa desolado.
Eu tinha jogado toda a minha vida nisso e não tinha conseguido. Foi a pior época da minha vida, passei um ano em depressão profunda, sem saber direito o que fazer dali pra frente. Mas eu precisava trabalhar, então saí correndo o mercado, atrás de um novo emprego. Decidi que, fosse o que fosse, teria que ser escrevendo, porque a oficina fortaleceu em mim a determinação de me tornar escritor profissional. Podia ser qualquer coisa, (…) De modo que, durante um ano, eu me tornei pornógrafo. (…)
Estaria lá até hoje se a Globo não tivesse resolvido fazer outra oficina, desta vez em São Paulo (…) Dessa vez, a oficina foi bem mais light porque nesse meio tempo eu já tinha absorvido boa parte do conteúdo, além de continuar me atualizando em matéria de dramaturgia, lendo livros, estudando por conta própria, etc.
Entrei pra Globo, onde comecei escrevendo (…) em um programa da Angélica (…) o Flora Encantada. Daí passei pra Turma do Didi, (…), escrevi um episódio do Brava Gente(…) e adaptei, também pro Brava Gente, o romance do Ruy Castro, Bilac Vê Estrelas.
Foi quando a minha chefe, a Edna Palatnik, que sempre me deu a maior força e foi quem conseguiu que eu me mudasse pro Rio, me apresentou pra Maria Adelaide, que me chamou pra escrever A Casa das Sete Mulheres com ela e o Walter Negrão. Meu trabalho deve ter sido pelo menos razoável, porque ela tornou a me chamar quando começou a trabalhar na sinopse de Um Só Coração com o Alcides Nogueira. E cá estou…
entrevista concedida ao Site “Alan Moore – Senhor do Caos”.
Tópicos: início de carreira, oficina de autores e ingresso na Rede Globo.
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