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A Secretária do Presidente – “Sala de roteiristas” com final feliz

por Emilio Boechat

Dia 15 de novembro, estreou a série “A Secretária do Presidente”, coprodução da Mixer com o canal por assinatura Multishow. A série usa como pano de fundo o ambiente político brasileiro – recheado de escândalos de corrupção – para desenvolver o plot clássico da menina do interior, que parte para a cidade grande em busca do sonho de se tornar estrela; só que, no caso da série, com uma importante inversão de tom para gerar comicidade: o sonho da protagonista é ser a secretária do Presidente da República.


A Secretária do Presidente

A ideia original foi apresentada à Mixer em 2012, que logo encampou o projeto, gerando interesse imediato no primeiro canal onde foi apresentada, o Multishow. De lá para cá, quatro anos se passaram até que a série fosse viabilizada, uma experiência que exigiu de todos os envolvidos muita paciência e mútua colaboração.

Num ambiente costumeiramente difícil para os profissionais, onde vemos nossos direitos enquanto autores serem desrespeitados com frequência, a experiência de desenvolver a primeira temporada de uma série original brasileira de produção independente foi muito positiva, e com conquistas importantes, que podem servir de base para iniciativas e projetos futuros.

Talvez a maior dessas conquistas tenha sido a contratual, garantindo ao autor 3% sobre o total da verba de produção para quaisquer outras temporadas e subprodutos, independente do cachê de roteirista para escrever a série. Graças em grande parte ao trabalho de Marilia Toledo, que buscou o diálogo com os roteiristas do mercado à época em que estava à frente da Diretoria de Dramaturgia da Mixer, criando a partir disso um novo contrato de trabalho entre as partes. Ao empenho de Caio Mariano e seu escritório de advocacia, especializado em direitos autorais, que mantém ótima relação com a Mixer e me representou junto à produtora. E é claro ao bom senso da própria Mixer em perceber que o que se pedia era justo e um direito assegurado ao autor. Apesar desse direito ser respeitado em países como Estados Unidos, no Brasil essa ainda é uma luta antiga de toda a classe de autores.

Outra conquista obtida ao longo desse projeto foi o respeito ao autor e à sua ideia original em todas as etapas do processo. Apesar da série ter sofrido alterações ao longo da criação e produção, elas foram em sua grande maioria consensuais, e fruto do diálogo. Com todas as partes trabalhando afinadas – roteiristas, direção, produção e Canal -, foi possível respeitar a ideia original adequando-a ao orçamento e ao cronograma, sempre levando em consideração a qualidade final do produto. Nesse processo, foi sem dúvida, fundamental o trabalho da diretora Júlia Jordão, que soube dar-lhe vida respeitando a essência da série, contribuindo igualmente para o seu enriquecimento com ideias sempre pertinentes. Isso, evidentemente, só foi possível porque as diretorias da Mixer e do Multishow nos deram liberdade criativa, apostando na premissa da série desde o início e acreditando em nossa capacidade de colocá-la de pé.

Apesar de lutar pelo respeito ao autor e sua ideia original, tenho consciência de que uma série é um trabalho coletivo. Por maior força que um roteirista tenha para fazer valer a visão sobre sua obra, para que ela seja executada da melhor forma possível e atinja o seu potencial máximo, é necessária a colaboração e contribuição artística de toda a equipe. Por isso quero agradecer a todos aqueles que participaram desse projeto e o abraçaram com tanto empenho e dedicação. Sabemos como são difíceis as condições para se trabalhar no mercado do audiovisual independente brasileiro e como é imprescindível o trabalho de todos para a superação de todas essas barreiras. Espero que experiências felizes como esta se repitam cada vez mais e transformem a realidade de produção em nosso país, respeitando autores e suas ideias.

A série foi escrita por Emilio Boechat, Valéria Motta e Aldo Camolez e está no ar, no Multishow, às 23h15.


 

Os artigos publicados pelos associados da ABRA são uma maneira de abrir espaço para a opinião do autor roteirista sobre diversas questões pertinentes à profissão. As opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor e podem não representar o posicionamento oficial da associação.

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