Roteirista, diretora e professora de roteiros, Ana Johann tem especialização em documentário pela Universidade de Barcelona e é Mestra em Comunicação e Linguagem pela Universidade Tuiuti do Paraná. Dirigiu e roteirizou sete filmes: Um Filme para Dirceu (2012), recebeu o (Prêmio Especial do Júri no 45° Festival de Brasília) e passou por importantes festivais no exterior e Brasil. Seu curta Notícias da Rainha (2013) participou dos festivais: Dei Popoli e Festival de Edinburgh), sendo premiado (Melhor filme no FENcine), festival de diretoras mulheres do Chile. Em 2015, lançou o livro “A construção do poético no roteiro cinematográfico”, pesquisa da sua dissertação. Ana é professora de cursos de pós-graduações em roteiro cinematográfico e cursos livres, consultora, desenvolve seus próprios projetos e é roteirista de projetos de outros autores.
Uma conversa com a cineasta Ana Johann:
Como nasceu a ideia do filme?
Quando comecei a pensar nesta história era sobre uma mulher que sofre de amnésia e um homem diz para ela quem ela é, ocultando informações. Acredito muito na escrita como possibilidade de intuição, razão e subversão. Intuímos, vomitamos e depois analisamos o que estamos escrevendo com conhecimento de dramaturgia. De certa forma, quando comecei a pensar nessa mulher com amnésia, eu me sentia assim nesta época, mas não tinha total consciência disso. Foi só em 2012 que subverti para um homem que tem amnésia e uma mulher diz a ele quem ele é, mesmo sem conhecê-lo. Além disso, cresci em uma vila rural, observando mulheres e vendo minha mãe ficar, às vezes, sozinha com os filhos e com medo de que algo invadisse nossa casa. Se na cidade já é difícil para mulheres, imaginem no campo onde elas estão geralmente sozinhas e os papeis são mais intensificados ainda. Queria também tirar o campo desse lugar idílico da imaginação das pessoas, onde muitas vezes realça a beleza das paisagens, mas esquece-se das relações familiares e seus códigos de ficção. Era fundamental, também, passar pela questão da sexualidade porque não acredito que uma mulher possa ser autônoma submetendo seu corpo apenas ao desejo do outro. Em 2015, chamei a roteirista, Alana Rodrigues, para desenvolver o projeto comigo.
Durante o desenvolvimento, o projeto contou com a participação em laboratórios de roteiro? Se sim, nos conte como foi a experiência de amadurecimento da história.
Escrevi um tratamento de roteiro em 2012 e ele foi selecionado em um projeto aqui em Curitiba chamado de Núcleo de desenvolvimento de roteiros Sesi-PR, agora extinto. Contou com a consultoria de Leandro Saraiva e Rune Tavares. Em 2014, foi selecionado pelo laboratório Sesc Novas Histórias e, em 2016, pelo Frapa e Cabíria. Em 2017, foi selecionado para um edital da Ancine de desenvolvimento Brasil-Itália e eu, Alana Rodrigues e Antonio Junior, o produtor, viajamos para Triestre na Itália.
Quais fontes de investimento e parcerias o projeto contou?
O filme contou com um edital de arranjo regional, Ancine e Secretaria de Estado do Paraná e depois teve uma complementação de recursos pela própria Ancine. Contou com um orçamento de um milhão e oitocentos, empregou mais de cem pessoas, 60% de mulheres.
Como foi o processo criativo no set de filmagem e as contribuições da equipe / elenco?
Acredito muito no roteiro cinematográfico como um documento vivo que precisa sim reter já um bom desenvolvimento de personagens e trama, mas ao mesmo tempo expandir com a soma de outros colaboradores que chegam quando o roteiro está pronto para a próxima etapa. São muitas as pessoas que colaboram para tirar as ideias do papel e materializar em um filme, a começar pelos atores deram vida a eles sempre acrescentando alguma característica. A diretora de arte, Fabíola Bonafiglio, não só pensou nestes espaços como também materializou os cachorros na parede do quarto da Luana, como a própria pomba do filme “Amor”, que expande da presença à figura. A figurinista Isabella Brasileiro trouxe uma mudança de cor no figuro da protagonista que vai mudando conforme o estado emocional dela e Hellen Braga, a diretora de fotografia encarnou também a própria câmera que é móvel, que está tateando a história e precisa estar em sintonia com este espaço e com os personagens. O cinema é coletivo e acredito que todas as funções têm seu valor, mas ainda assim sou por um cinema de ficção onde é necessário o espectador acreditar naquela história e, para isso, é preciso construir um bom roteiro e também dar muito espaço aos atores. Muitas vezes, a gente passava a decupagem geral e os atores vinham com ideias que eu e Hellen acabávamos adaptando a cena porque eram eles que estavam vivendo aquela história naquele espaço específico e foi muito bom ter uma fotógrafa no set que tinha este entendimento.
Qual é a carreira que você espera para o filme, considerando a ótima oportunidade de estreia na Mostra de Cinema de Tiradentes?
Espero que ele faça uma estreia internacional em breve e também circule por outros festivais brasileiros para depois lançá-lo em um circuito comercial.
Qual é a principal mensagem que você almeja que o filme alcance?
É um filme sobre uma protagonista que concebe inicialmente o medo como um sentimento corriqueiro e por meio de um incidente começa a agir. Quero falar deste lugar de um papel construído, de que precisaríamos da segurança de um homem e onde os homens sempre nomearam o que somos, mas enquanto criadora, trabalho esses papeis, subvertendo-os. A outra questão fundamental neste roteiro e que venho pesquisando e muito interessa falar é sobre a sexualidade da mulher, é pelo gozo que ela começa a transformação.
SINOPSE: Renata é uma mulher de quarenta anos que vive na vila rural com seu marido e uma filha adolescente. Inicialmente, ela concebe o medo como um sentimento corriqueiro, mas ao passar por algumas situações, começa a encontrar o desejo e a pulsação da vida.
SERVIÇO:
“A Mesma Parte de um Homem” estreia amanhã (27.01) às 20h na plataforma da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na Mostra Aurora, no link abaixo, e fica disponível até 48 horas a partir desta data e horário: https://mostratiradentes.com.br/filme/a-mesma-parte-de-um-homem/
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